Talvez você já tenha passado algum tempo discutindo com amigos ou refletindo sozinho sobre a existência de vida inteligente fora do planeta Terra.
O professor sênior de Paleontologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Bath, Nick Longrich, publicou um artigo sobre esse assunto.
Para o professor, a história da evolução mostra que muitas das adaptações essenciais como animais e células complexas, fotossíntese e a própria vida, além da inteligência, foram eventos muito específicos e, portanto, altamente improváveis.
Por isso, o autor considera que a nossa evolução pode ter sido menos provável do que ganhar na loteria.
Nesse contexto o professor fala do chamado Paradoxo de Fermi, que se refere à discrepância entre a possibilidade de existência de civilização inteligente fora da Terra ou visitações, devido à vastidão e longo tempo de existência do universo, e a presunção de que nenhum visitante extraterrestre foi observado.
O caminho para que exista vida inteligente
Embora não possamos estudar vida extraterrestre para determinar se há vida inteligente fora da Terra, o professor destaca que podemos analisar os cerca de 4,5 bilhões de anos da história do nosso planeta. Nesse contexto, ele sugere observar onde a evolução se repete ou não.
Se a evolução se repetir com frequência, então ela pode ser provável, ou até inevitável. Longrich ressalta que a evolução, às vezes, se repete. Há casos em que espécies diferentes convergem para resultados semelhantes. Essa convergência também ocorre em órgãos individuais, como os olhos que evoluíram nos vertebrados e nos atrópodes, entre outros.
A questão, para o professor, é que toda a convergência ocorreu dentro da mesma linhagem, a dos eumetazoários. Eles são animais complexos com simetria, boca, tripas, músculos e sistema nervoso.
Os eumetazoários desenvolveram soluções similares para problemas similares, embora os corpos que fizeram isso possível sejam diferentes. Os animais evoluíram, escreve o autor, uma vez na história da vida. Isso sugere que são improváveis.
As mudanças improváveis
Longrich destaca que eventos críticos da história evolutiva são únicos. Entre eles, cita o esqueleto dos vertebrados, as células eucarióticas complexas e a fotossíntese, que evoluíram apenas uma vez. O autor destaca que o mesmo ocorre com a inteligência em nível humano.
Se procurarmos apensa pelas convergências, o autor considera que teremos um resultado enviesado, pois elas parecerão ser a regra.
Mas se procurarmos pelos casos de não convergência, eles estão presentes em tudo. Nesse contexto as adaptações críticas e complexas parecem ser as que menos se repetem e, portanto, são improváveis, de acordo com Longrich.
Ainda tem destaque, para Longrich, o fato de que até onde sabemos, a vida só aconteceu uma vez. E é a partir de um único ancestral que vêm todos os organismos. Assim, para que um evoluísse, foi necessária a evolução de outro.
Como no caso dos animais complexos que precisam de células complexas, estas precisam de oxigênio, que é produzido pela fotossíntese. Nesse contexto, o autor considera que a evolução da vida é um evento singular entre eventos singulares.
Outro fator que demonstra a improbabilidade dessas evoluções, para o autor, é o tempo que elas demoraram para ocorrer.
A fotossíntese evoluiu 1,5 bilhão de anos após a formação da Terra, células complexas levaram 2,7 bilhões de anos para evoluir, animais complexos 4 bilhões de anos e a inteligência evoluiu 4,5 bilhões de anos após a formação da Terra.
A vida inteligente
O autor pede para imaginarmos que a evolução precisa de uma cadeia de sete inovações improváveis, são elas: a origem da vida, fotossíntese, células complexas, sexo, animais complexos, esqueletos e a própria inteligência.
Longrich, considera que cada uma dessas evoluções tem 10% de chance de ocorrer. Nesse contexto, a chance de evolução da inteligência passa para uma em 10 milhões.
Em seguida, o autor destaca que essas evoluções dependeram de uma série de adaptações para ocorrer. Nesse sentido, talvez, essas alterações só ocorressem 1% das vezes.
Assim, a inteligência surgiria apenas em um de cada 100 trilhões de mundos habitáveis. Considerando que os mundos habitáveis são raros, nós podemos ser a única vida inteligente na galáxia, ou até mesmo no universo visível, pondera Longrich. [The Conversation]