Por que não conseguimos nos lembrar de nossos primeiros anos de vida?

Lembrar

É bem provável que as recordações sejam de quando você tinha 3 ou 4 anos de idade no máximo. Por que não costumamos nos lembrar do que aconteceu no início de nossas vidas?

O fenômeno, conhecido como “ amnésia infantil ”, vem intrigando psicólogos há mais de um século – e ainda não o entendemos completamente.

A idade média de nossas primeiras recordações é 3 anos e 4 meses, mas há quem possa se lembrar de eventos anteriores. Afinal, uma criança de 2 anos de idade pode reconhecer pessoas e lugares – e isso requer memória.

Mas, neste caso, estamos falando da memória episódica, relacionada a acontecimentos autobiográficos – momentos, locais, emoções e outros dados de contexto – que podem ser evocados explicitamente.

Curva de esquecimento

Para explorar como nos recordamos, pode ser uma boa ideia começar pela forma como esquecemos. No final do século 19, o alemão Herman Ebbinghaus, pioneiro no estudo da memória, inventou um experimentos para testá-la.

Primeiro, aprendeu centenas de listas de palavras sem sentido. Depois, mediu quanto tempo levava para voltar a aprender as listas após períodos de tempo que iam de 20 minutos a um mês.

Assim, ele chegou à conclusão de que nos esquecemos de forma totalmente previsível. A “curva do esquecimento” – batizada por ele – é exponencial: nos esquecemos mais intensamente de início e, depois, o processo se atenua.

Outra coisa que Ebbinghaus descobriu foi que essa curva muda com a idade e que as crianças se esquecem mais rapidamente.

E quem se lembra?

Em “A Experiência da Memória”, os participantes responderam a um questionário do psicólogo Martin Conway, da City University of London, no Reino Unido, em que era pedido que descrevessem sua primeira lembrança e respondessem a outras perguntas, como a idade em que o fato ocorreu.

Cerca de 40% dos participantes relataram lembranças de acontecimentos ocorridos quando tinham 24 meses, e 861 pessoas mencionaram memórias adquiridas antes de completarem 1 ano de vida. “Ficamos chocados”, diz Conway.

O psicólogo diz que há até mesmo quem diga se lembrar de seu nascimento. Mas ele esclarece que isso não é possível.
“Uma pessoa pode se lembrar de fragmentos da infância porque sua mãe disse algo como: ‘Não se lembra que eu te levava para passear em um carrinho grande e verde?’. E a pessoa ‘lembra’ disso”, diz Conway.

“Mas o que ocorre é que a pessoa cria uma imagem mental do carrinho, e, aos poucos, isso se transforma em algo que você experimenta como uma memória, baseado no que a mãe disse e algum outro fragmento de memória.

São as chamadas “memórias fictícias”. No entanto, Conway esclarece que “não podemos ter certeza de que essas memórias sejam falsas: não podemos descartar casos excepcionais. Mas, no geral, a probabilidade é muito alta de que não sejam verdadeiras”.

Fonte:

BBC Brasil

[Saúde]