Você já ouviu falar dos tardígrados? Estes animais ilustram bem aquele velho ditado que diz que tamanho não é documento.
Isso porque, apesar de seu tamanho minúsculo (a maior parte das espécies tem menos de 0,5mm), eles são incrivelmente resistentes às mais inóspitas condições, como temperaturas tanto altíssimas quanto baixíssimas, baixa pressão, ausência de água, ausência de oxigênio, alta concentração de solutos e elevados índices de radiação.
E não para por aí, trabalhos recentes mostraram que esses pequenos são capazes de sobreviver no espaço, além de sobreviver e se reproduzir após décadas congelados.
Entretanto, os mecanismos por trás da super-resistência destes animais permaneceram desconhecidos por muito tempo.
Até que, em 2015, pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte publicaram um estudo sobre uma espécie de tardígrado de água doce (Hypsibius dujardini) no qual alegaram que grande parte de seu genoma (17%) teria sido adquirida de bactérias via transferência horizontal ‒ processo no qual ocorre transferência de material genético de um organismo para outro que não é seu descendente ‒, e atribuíram sua resistência a isso.
Entretanto, diversos pesquisadores acreditam que o DNA “estranho” encontrado seria resultado de contaminações na amostra, e não de transferência horizontal.
Um grupo de pesquisadores liderado por Takuma Hashimoto, da Universidade de Tóquio, publicou no periódico científico Nature Communications os achados que fizeram após um sequenciamento genético detalhado de uma das espécies mais resistentes de tardígrados, a Ramazzottius variornatus.
O genoma desta espécie mostrou sinais de apenas um pequeno volume de genes “estranhos”, que poderiam ter sido adquiridos por meio de transferências horizontais (apenas 1,2% ou menos).
As análises também revelaram diversos genes e processos biológicos relacionados à tolerância dos tardígrados, como genes de reparação do DNA e perdas de vias gênicas que promovem danos por estresse.
Os pesquisadores também descobriram que o DNA do tardígrado sintetiza uma proteína exclusiva desses animais (que foi apelidada de DSUP).
Esta proteína se liga ao DNA e atua como um escudo contra radiação, impedindo que ele se quebre ‒ o que fornece explicações sobre a tolerância destes animais a condições tão extremas.
A equipe então inseriu a DSUP no DNA de células humanas e as expôs a raios-X, e mostrou que ela também é capaz de proteger o DNA humano de altas doses de radiação.
A descoberta de um dos segredos da resistência dos tardígrados, além de ser interessante por si só, tem potencial para ser utilizada até mesmo em humanos.
Essas proteínas poderiam ser utilizadas para melhorar a nossa tolerância a raios-X e permitir nossa sobrevivência em ambientes hostis, como a superfície de Marte. Vai que um dia seja necessário, né?
Fonte:
Via: Biologia Total
Leia também: