Os vombates são animais nativos da Austrália, talvez mais conhecidos por serem bem rechonchudos – e muito fofos. Mas há algo que você pode não saber sobre esses adoráveis marsupiais: os vombates são os únicos animais no mundo que produzem cocô em forma de cubo.
Embora essa peculiaridade tenha despertado muito interesse e debate, a pesquisa atual sobre as particularidades das fezes do vombate ainda era insuficiente. Em grande parte, isso deixava os cientistas às cegas sobre o fenômeno – até recentemente.
No início deste ano, Patricia Yang, pesquisadora do Instituto de Tecnologia da Geórgia, especializada em fluidos corporais, começou a examinar o assunto mais de perto depois de ouvir sobre isso em uma conferência.
“Eu realmente não acreditei”, diz Yang. Mas depois de confirmar que é, na verdade, um fato, ela começou a tentar descobrir por que, e como, o vombate faz cocô em cubos.
“As pessoas têm todos os tipos de teorias”, diz Mike Swinbourne, um especialista em vombate da Universidade de Adelaide, na Austrália.
Uma premissa popular é que os vombates criam cubos para que possam empilhá-los para marcar seu território, sem que os pedaços se afastem. Todavia, Swinbourne diz que isso é uma concepção errônea.
Enquanto os vombates usam seus excrementos para marcar território, “não é como se eles estivessem tentando construir pequenas pirâmides de tijolos”, ele diz.
Em vez disso, Swinbourne diz que a forma cúbica é provavelmente mais relacionada aos ambientes secos em que a maioria dos vombates vive.
“Eles têm que realmente espremer cada gota de umidade [de sua comida]”, disse ele. E, às vezes, em zoológicos, onde os animais têm acesso mais rápido à hidratação, Swinbourne diz que seu excremento é menos cúbico.
Estar seco ajuda as fezes a terem formas mais rígidas com ângulos mais nítidos.
Explicação
A umidade desempenha um papel, mas “é também um fator do trato digestório primário”, acrescenta Bill Zeigler, vice-presidente sênior de programas de animais do zoológico de Brookfield em Chicago, que tem vombates desde 1969.
Peter Clements, presidente da organização Wombats SA no sul da Austrália, concorda, especulando que a razão é uma combinação dos dois.
Encontrar uma resposta mais concreta, no entanto, não tem sido fácil. Demorou alguns meses para que Yang e seus colegas conseguissem pelo menos ter acesso a vísceras internas para o estudo.
Nenhum zoológico na América do Norte tinha vísceras, então Yang conseguiu que os intestinos de dois vombates atropelados fossem trazidos da Austrália. Ela não tinha certeza do que iria encontrar quando eles chegaram.
A descoberta
“No começo eu pensei que eles talvez tivessem o ânus quadrado, ou talvez [o cubo] se formasse ao redor do estômago”, disse ela.
Mas nenhuma dessas hipóteses acabou sendo o caso. O que ela descobriu ser mais importante foi como os intestinos do vombate se esticavam.
À medida que a comida é digerida, ela se move através do intestino e a pressão do intestino ajuda a esculpir as fezes – o que significa que o formato do intestino afetará a forma das fezes.
Assim, Yang e sua equipe expandiram os intestinos do vombate e do porco com um balão para medir e comparar suas elasticidades (ou alongamento).
O intestino de porco tinha uma elasticidade relativamente uniforme, o que explicaria o cocô mais redondo do animal. Os intestinos de vombate, no entanto, tinham uma forma muito mais irregular.
Yang observou dois sulcos semelhantes a ravinas, onde o intestino é mais elástico, o que ela acredita que ajuda a transformar as fezes de vombate em cubos.
“É realmente a primeira vez que vejo alguém sugerir uma boa explicação biológica e fisiológica”, disse Swinbourne, que revisou o rascunho.
Clements, que também leu o estudo inicial, acrescentou: “Acho que esta é uma contribuição útil, porém mais explicações de um possível mecanismo seria útil”.
Mais perguntas
Yang concorda que ainda há uma série de perguntas a serem respondidas e diz que sua pesquisa está em andamento. Sua próxima tarefa é descobrir por que apenas dois sulcos produzem um cubo, ao invés de precisar de quatro.
Entretanto, mesmo as descobertas iniciais acarretam implicações mais amplas para setores como a manufatura.
Os cubos, diz Yang, são muito raros na natureza. “Atualmente, temos apenas dois métodos para fabricar cubos”, disse ela, explicando que os seres humanos moldam cubos a partir de materiais macios ou os cortam de objetos mais rígidos.
“Os vombates têm um terceiro caminho”.