De acordo com um novo estudo, a gonorreia pode ser transmitida pelo beijo na boca. A descoberta contradiz a crença de que a doença é apenas sexualmente transmissível e abre precedentes para novas interpretações de como e por que os casos de contaminação têm aumentado.
A pesquisa foi realizada na Austrália e afirma que o beijo de língua pode ser uma maneira de transmitir gonorreia orofaríngea, ou gonorreia oral, que afeta principalmente homens homossexuais e bissexuais.
“É um assunto que vale a pena continuar a ser investigado, com certeza”, afirmou Anthony Lutz, enfermeiro do departamento de urologia do Centro Médico da Universidade de Columbia, ao Washington Post.
Ele também disse que, embora nunca tenha visto casos do tipo, essa possibilidade já intrigava a comunidade médica há anos.
A gonorreia é causada pelo Neisseria gonorrhoeae, transmitida sexualmente e seus sintomas normalmente afetam a genitália, o reto e a garganta. Até a pesquisa, que testou mais de 6 mil homens em Melbourne, acreditava-se que mesmo a variante oral da doença era transmitida via sexo oral.
“Descobrimos a quantidade de pessoas que um indivíduo beijava também as colocava em maior risco de ter gonorreia na garganta, independentemente de o sexo ter ocorrido [junto] com o beijo.
Esses dados desafiam as rotas tradicionais de transmissão aceitas da gonorreia nos últimos 100 anos, em que se pensava que o pênis de um parceiro era a fonte da infecção na garganta”, relatou Eric Chow, principal autor do estudo.
“Descobrimos, depois de controlarmos estatisticamente o número de homens beijados, que o número de homens com quem alguém transou, mas não beijou, não estava associado à gonorreia da garganta.”
Resistência
Os casos de gonorreia vêm aumentando no mundo, muito por conta do aumento da resistência aos antibióticos. Esse fato, inclusive, fez a OMS eleger a resistência antimicrobiana como uma das maiores ameaças à saúde em 2019.
Nos Estados Unidos, por exemplo, os casos da doença cresceram 67% de 2013 a 2017, segundo o CDC.
“Esperamos que a gonorreia acabe desgastando nosso último antibiótico altamente eficaz, e opções de tratamento adicionais são urgentemente necessárias”, disse Gail Bolan, diretor da Divisão de Prevenção de DSTs do CDC.
“Não podemos diminuir nossas defesas — devemos continuar reforçando os esforços para detectar e prevenir rapidamente a resistência o maior tempo possível”.
Ao invés de causar pânico, os especialistas acreditam que a descoberta pode ajudar no combate contra a doença, porque, como mais pessoas se sentem à vontade falando sobre beijar na boca que sobre sexo, o assunto se tornará menos tabu — e sua discussão é muito importante para a prevenção.
“Através de nossa pesquisa, mostramos que a gonorreia pode ser transmitida através do beijo. Isso ajudará as pessoas a entender como a infecção foi introduzida — especialmente se elas não forem sexualmente ativas ”, argumenta Anthony Lutz.
A equipe já está pesquisando modos de prevenção para a transmissão pelo beijo na boca.