Será que o nosso Sol teve um gêmeo quando nasceu há 4,5 mil bilhões de anos? Quase de certeza que sim – embora não tenha sido um gêmeo idêntico.
E, segundo uma nova análise por um físico teórico da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e por uma astrônoma do Observatório Astrofísico do Smithsonian da Universidade de Harvard, tal como a nossa estrela-mãe, também todas as outras estrelas parecidas com o Sol no Universo.
Muitas estrelas têm companheiras, incluindo a nossa vizinha mais próxima, Alpha Centauri, um sistema triplo. Os astrônomos há muito que procuram uma explicação.
Será que os sistemas binários e triplos nascem dessa maneira? Será que uma estrela capturou outra? Será que as estrelas duplas por vezes se separam e se tornam estrelas individuais?
Hipóteses e descobertas
Durante anos, os astrônomos se perguntaram se o grande número de sistemas binários e triplos das estrelas em nossa galáxia são criados próximos um ao outro, ou se eles se juntam depois de se formarem.
A hipótese de nascerem em conjunto tem sido a mais aceita, e as simulações desenvolvidas nas últimas décadas mostraram que quase todas as estrelas poderiam nascer em versões múltiplas, que muitas vezes se afastam por conta própria.
Evidências empíricas que sirvam de suporte às simulações têm sido limitadas, infelizmente, o que faz desse novo trabalho uma pesquisa muito interessante.
Nosso trabalho é caminhar um passo à frente para entender como os binários se formam, e também o papel que desempenham na evolução estelar em seus primeiros estágios”, disse Stahler.
Procedimento
Os pesquisadores mapearam ondas de rádio que escoaram de dentro de um denso casulo de poeira, a cerca de 600 anos-luz de distância da Terra, que continha todo um “berçário” de jovens estrelas.
A pesquisa permitiu um censo de estrelas com menos de um milhão de anos, chamadas de estrelas Classe 0 – não mais do que bebês, em termos estelares – e as um pouco mais velhas, entre 500 mil e um milhão de anos, chamadas de estrelas Classe 1.
Comparando informações sobre os formatos da nuvem de poeira ao redor, os cientistas encontraram 45 estrelas solitárias, 19 sistemas binários e outros cinco sistemas que continham mais de duas estrelas.
Enquanto antigos resultados previram que todas as estrelas nasceram de modo binário, agora os cientistas mudaram suas conclusões para levar em conta as limitações do modelo de pesquisa, ao afirmar que a maioria das estrelas formadas dentro dos núcleos densos de poeira nascem com um parceiro – mas não todas elas.
“Acredito que temos a evidência mais forte até agora para garantir tal afirmação”, disse Stahler.
Observando-se atentamente as distâncias entre as estrelas, os pesquisadores descobriram que todas as estruturas binárias separadas por um intervalo de 500 Unidades Astronômicas (UAs) ou mais eram Classe 0, e estavam alinhadas ao eixo da novem oval ao seu redor.
Estrelas Classe 1, por sua vez, tendiam a estar mais próximas – em cerca de 200 UA – e não estavam alinhadas ao formato “oval”
“Ainda não sabemos exatamente o que isso significa, mas não é um dado aleatório e deve informar algo sobre a forma como os binários se formam”, disse Sarah Sadavoy do Observatório Astrofísico Harvard-Smithsonian.
Se a maioria das estrelas nascem com um parceiro, onde está o irmão do nosso Sol?
Uma distância de 500 UA equivale a aproximadamente 0,008 anos-luz, ou a quase três dias-luz. Para colocar os dados em perspectiva: Netuno situa-se a 30 UA de distância; a sonda Voyager 1 está a menos de 140 UA e a estrela conhecida mais próxima – a Proxima Centauri – localiza-se a 268.770 UA de distância da Terra.
Isso quer dizer que, se o Sol tem um irmão gêmeo, certamente não é fácil vê-lo em nossa vizinhança.
Porém, existe a hipótese de que o nosso Sol tem um gêmeo das trevas que, vez ou outra, gosta de agitar as coisas.
Nomeado como “Nêmesis”, essa – em tese – estrela causadora de problemas foi proposta como um motivo por trás do aparente ciclo de extinções em massa na Terra, a cada 27 milhões de anos, inclusive o ciclo que eliminou a maioria dos dinossauros.
Uma estrela de passagem mais fraca e opaca, como uma anã marrom, também poderia explicar outras anomalias às margens do nosso Sistema Solar, como a órbita curiosa e extensa do planeta anão Sedna.
Não há o menor sinal de Nêmesis, mas cabe na conta a existência de um parceiro binário do nosso Sol perdido por aí: “Estamos dizendo que, sim, provavelmente houve uma Nêmesis há muito tempo”, disse Stahler.
Nesse caso, nosso Sol teria acumulado a maior parte da poeira e do gás, deixando o seu gêmeo menor e mais escuro.