Uma nova pesquisa, divulgada nesta quinta-feira (23), possibilitou a reprodução de voz da múmia Nesyamun, que morreu há três mil anos. Ela está localizada no Leeds City Museum e é considerada uma das mais bem preservadas do Reino Unido.
O som obtido é algo entre as vogais das palavras inglesas “bad” e “bed” 一 “mal” e “cama”, em tradução. Ao ouvir, é bem provável que você escute algo próximo ao som de ovelhas – ou de um gemido. Confira no vídeo abaixo, divulgado pelo jornal The Guardian.
Para obter o áudio, pesquisadores da Royal Holloway, da Universidade de Londres, levaram a múmia à enfermaria geral do Leeds, onde fizeram tomografias computadorizadas.
Com isso, ele puderam reconstruir, por meio de impressão 3D, o trato vocal da múmia. Pois é: as cavidades laríngea, faríngea, oral e nasal foram recriadas digitalmente e, depois, impressas:
A boa preservação da múmia facilitou o trabalho dos pesquisadores, mas nem todas as partes de Nesyamun estavam em perfeitas condições. Sua língua, por exemplo, perdeu parte do volume muscular devido aos anos passados.
O palato mole (tecido da parte de trás do céu da boca) não foi encontrado, e acredita-se que ele tenha sido retirado durante o próprio processo de mumificação.
Para tornar o fato possível, os pesquisadores desenvolveram uma laringe eletrônica capaz de gerar o som. A reprodução leva em consideração a posição da múmia no sarcófago 一 reclinada e com a cabeça para trás 一, e não a articulação que o homem utilizava em seu dia a dia.
Esses pequenos detalhes podem comprometer a precisão da voz, mas alterando o trato vocal, outros sons podem ser obtidos no futuro.
Quem foi Nesyamun?
Essa não foi a primeira pesquisa feita com Nesyamun. Em 1824, a múmia já havia sido retirada de seu sono profundo. Na época, constataram que o homem morreu por volta dos 50 anos em razão de uma reação alérgica, ocasionada por uma picada na língua.
Nesyamun foi um sacerdote (ministro religioso) e escriba, responsável por ler e interpretar leis. Ele viveu em Tebas, cidade do Antigo Egito, durante o reinado do faraó Ramsés XI, no início do século 11 a.C.
Os egípcios acreditavam em vida após a morte. Para eles, havia uma espécie de provação ao morrer, em que precisariam recitar uma confissão aos deuses.
“Somente se os deuses concordassem, a alma falecida passaria para a eternidade”, explica o professor Joann Fletcher, do departamento de arqueologia da Universidade de York, em entrevista ao The Guardian. “Se falhassem no teste, teriam uma segunda morte – permanente.”
Nesse casp, Nesyamun teve sorte: ao lado de seu nome no sarcófago, encontram-se as inscrições “verdadeiro de voz”, valor atribuído aos que passaram no teste. Ele era um padre waab, o que significava possuir certo nível de purificação e algumas vantagens religiosas.
Mas o que sacerdote nenhum poderia imaginava era que, três mil anos depois, um deles voltaria a falar na terra dos vivos – uma contribuição póstuma importante para o resgate da História.
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