No fim de 2019, astrônomos de todo o mundo notaram a diminuição do brilho da estrela Betelgeuse, a mais brilhante da constelação de Orion, situada a 642,5 anos-luz da Terra.
Nos meses que se seguiram à observação, especialistas especularam que o fenômeno fosse resultado de sua explosão em supernova. Agora, um novo estudo indica outra possibilidade.
Segundo a pesquisa, que será publicada no Astrophysical Journal Letters, as variações de brilho e temperatura na superfície de Betelgeuse são resultado da existência de uma nuvem de poeira cósmica ao seu redor.
Os novos cálculos corroboam a teoria de que a supergigante vermelha, como muitas outras de seu tipo, liberou material de suas camadas externas, criando essas divergências.
“Vemos isso o tempo todo em supergigantes vermelhas e é uma parte normal do seu ciclo de vida”, disse Emily Levesque, uma das pesquisadoras, em comunicado.
“Supergigantes vermelhas ocasionalmente lançam material de suas superfícies, que se condensam ao redor da estrela como poeira. À medida que ela esfria e se dissipa, os grãos de poeira absorvem parte da luz que se aproxima de nós e bloqueiam nossa visão.”
A descoberta não descarta o fato de que Betelgeuse explodirá em supernova, mas é um sinal de que isso pode ocorrer em algum momento nos próximos 100 mil anos, e não em breve, como muitos acreditam.
“Uma maneira simples de diferenciar essas possibilidades é determinar a temperatura efetiva da superfície de Betelgeuse”, disse Philip Massey, que também participou do estudo.
O cálculo do calor de um astro como a supergigante vermelha é feito através do espectro de luz que emana da estrela: de acordo com o comprimento de onda enviado pelo corpo, os astrônomos podem calcular sua temperatura.
A luz de estrelas como a Betelgeuse costuma ser forte demais para cálculos do tipo, mas Massey utilizou um filtro para “amortecer” o sinal enviado pelo astro, permitindo que ele encontrasse uma assinatura específica: o poder de absorção da luz pelas moléculas de óxido de titânio.
Como explicam os especialistas, o óxido de titânio pode se formar e se acumular nas camadas superiores de estrelas grandes e relativamente frias, como a Betelgeuse.
Isso porque ele absorve certos comprimentos de onda da luz, deixando sinais no espectro que os cientistas podem usar para determinar a temperatura da superfície da estrela.
Após anos de observações, a equipe percebeu que a temperatura média da superfície de Betelgeuse em 14 de fevereiro era de 3.325 graus Celsius, o que é apenas de 50 a 100 graus Celsius mais frio que a temperatura detectada 2004.
Para os pesquisadores, isso coloca em xeque a teoria da explosão da estrela em supernova por conta das chamadas “células de convecção” da estrela.
Quando acontece uma explosão, elas provocam um resfriamento da superfície do astro – que deveria ser muito maior que o registrado pelos especialistas entre 2004 e 2020.
“Uma comparação com nosso espectro de 2004 mostrou imediatamente que a temperatura não havia mudado significativamente”, pontuou Massey. “Sabíamos que a resposta tinha que ser poeira.”
Mas, enquanto as células de convecção da nossa estrela são numerosas e pequenas, as de supergigantes vermelhas são maiores e mais maciças, estendendo-se por grande parte das suas superfícies.
Os astrônomos, entretanto, acreditam que é necessário continuar estudando a Betelgeuse, tanto para testarem sua hipótese quanto para descobrirem novas informações.
“Supergigantes vermelhas são estrelas muito dinâmicas”, pontuou Levesque. “Quanto mais aprendermos sobre seu comportamento normal, flutuações de temperatura, poeira e células de convecção, melhor entenderemos e reconheceremos quando algo verdadeiramente único, como uma supernova, pode acontecer.”
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