Cientistas brasileiros identificaram um vírus “misterioso” enquanto estudavam microrgranismos da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte.
Segundo os especialistas, não há genes conhecidos no DNA analisado, o que sugere que o genoma do organismo seja inteiramente novo para a ciência.
Uma versão prévia do artigo foi publicada pela equipe na revista científica bioRxiv. No texto, os especialistas explicam que o microrganismo afeta amebas e que foi batizado como Yaravirus brasiliensis — Yara sendo uma homenagem à “mãe das águas”, segundo a mitologia indígena tupi-guarani.
A descoberta foi feita enquanto Jônatas Abrahão, virologista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), caçava os chamados “vírus gigantes” no lago artificial da capital mineira.
Além de muito grandes, esses organismos são mais complexo do que se pensava, pois também possuem genomas completos, que dão a eles a capacidade de sintetizar proteínas e, portanto, executar reparo, replicação, transcrição e tradução do DNA.
O Yaravirus, entretanto, não entra nessa categoria, pois é pequeno (cerca de 80 nanômetros) e não tem as mesmas habilidades. Ainda assim, sua descoberta fascinou os especialistas por conta do código genético singular.
“Muitos dos vírus conhecidos da ameba compartilham recursos que eventualmente levaram os autores a classificá-los em grupos evolutivos comuns”, escrevem os cientistas por trás do estudo.
“Ao contrário do que é observado em outros vírus isolados da ameba, o Yaravirus não é representado por uma partícula grande/gigante e um genoma complexo, mas, ao mesmo tempo, carrega um número importante de genes nunca descritos.”
A novidade não surpreende a virologista Elodie Ghedin, da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos.
Em entrevista à revista Science, ela disse que mais de 95% dos vírus no esgoto “não têm genomas correspondentes nos bancos de dados para referenciar genomas”, afirmou. “Parece que estamos descobrindo novos vírus o tempo todo.”
Abrahão e seus colegas concordam com a especialistas no artigo, mas isso não os desanimou em relação à descoberta.
“Usando protocolos padrão, nossa primeira análise genética foi incapaz de encontrar sequências reconhecíveis de capsídeo ou outros genes virais clássicos no Yaravirus“, escreveran os pesquisadores.
“Seguindo os atuais protocolos para detecção viral, o Yaravirus nem seria reconhecido como um agente viral.”
Isso significa que a equipe não sabe ao certo o que é e como atua o Yaravirus, mas os cientistas especulam que o organismo pode ser o primeiro caso isolado de um grupo desconhecido de vírus amebal, ou potencialmente um tipo distante de vírus gigante que, de alguma forma, pode ter evoluído para uma forma reduzida.
Sendo assim, os especialistas pretendem continuar estudando o organismo. “A quantidade de proteínas desconhecidas que compõem as partículas do Yaravirus reflete a variabilidade existente no mundo viral e quantos potenciais novos genomas virais ainda precisam ser descobertos”, concluem os autores.
Fonte:
[Ciência]
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