O Cinturão Pirítico da Península Ibérica, no sudoeste da Espanha, parece um cenário de filme de um mundo alienígena. Lagos ferruginosos marcam a paisagem repleta de ferro.
O Rio Tinto, batizado por sua forte coloração vermelha, parece brilhar sobre as rochas opacas. Mas ao cavar um pouco mais fundo, as coisas ficam ainda mais esquisitas.
Surpreendendo os cientistas, foram encontradas cianobactérias em próspero desenvolvimento a cerca de 600 metros abaixo da estranha paisagem, onde a luz do sol, água e nutrientes são escassos.
Os pesquisadores acreditavam que esses micróbios poderiam sobreviver apenas regozijando-se ao sol, apesar de serem tão versáteis. Agora, os cientistas os encontraram vivos praticamente em todos os lugares da Terra.
“No deserto existem cianobactérias. No mar, elas também são encontradas. Na Estação Espacial Internacional, eles (os micróbios) podem chegar até o topo e, se trazidos para baixo, sobrevivem”, afirma Fernando Puente-Sánchez, pesquisador de pós-doutorado do Centro Nacional de Biotecnologia da Espanha.
Cianobactérias exercem um importante papel na história da Terra: foram responsáveis por bombear oxigênio para a atmosfera, tornando possível a uma vida nadar, se arrastar, pular, galopar e voar pelo planeta.
É por isso que o novo estudo, publicado na revista científica Procedimentos da Academia Nacional de Ciências, está fazendo os cientistas repensarem sobre o que pode sobreviver profundamente sob nossos pés—e talvez até os tipos de criaturas que deveríamos procurar em nossa busca pela vida em Marte e além (conheça mais sobre um lago subterrâneo possivelmente encontrado em Marte).
Indícios de vida marciana
A nova descoberta pode ter implicações na busca por vida extraterrestre, conta Puente-Sánchez. A região de Rio Tinto, em particular, é tida há muito tempo como análoga a Marte devido a seus abundantes minerais de ferro e enxofre, semelhante ao observado no planeta vermelho.
Esse último estudo destaca a capacidade de adaptação da vida e a possibilidade de comunidades marcianas de subsuperfície, ocultas da radiação prejudicial da superfície.
Dois rovers estão previstos para serem lançados em 2020 em busca de sinais de vida em Marte: o ExoMars da Agência Espacial Europeia e o Mars 2020 da NASA. Ambos são equipados com brocas para coletar núcleos de rocha em busca de vida microbiana antiga—porém, eles talvez possam descobrir algo mais recente.
“Não estou alegando que existam cianobactérias em Marte”, diz Puente-Sánchez, ressaltando que, em vez disso, precisamos abrir a nossa mente sobre o que possa se desenvolver e sobreviver em nosso próprio planeta.
“Acreditamos que um ambiente extremamente hostil—como a subsuperfície, como Marte—pode ser viável para a vida”.
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