X

Ginandromorfos: os animais que são metade macho, metade fêmea

Vários casos de ginandromorfos já foram encontrados entre lagostas, caranguejos, bichos-da-seda, borboletas, abelhas, serpentes e várias espécies de aves.

Suas estranhas características podem explicar alguns dos mistérios do desenvolvimento do sexo no organismo.

É impossível determinar exatamente qual a frequência com que esses seres surgem na natureza. O biólogo Michael Clinton, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, estima que uma em cada 1 milhão de aves se desenvolve dessa maneira. Não se sabe a incidência entre mamíferos.

Durante muito tempo, cientistas assumiram que o fenômeno se devia a um acidente genético após a concepção.

Há poucos anos, Clinton e sua equipe tiveram a chance de estudar a fundo três exemplares de galinhas ginandromorfas. Quando examinou os genes dos animais, o cientista descobriu que elas tinham cromossomos sexuais normais – ZZ de um lado e ZW de outro.

Ou seja, as criaturas eram basicamente formadas como dois gêmeos bivitelinos unidos pelo centro.

Truque evolutivo

Borboletas e outros insetos também podem apresentar ginandromorfia, mais rara em mamíferos

Clinton agora tem outra teoria para a origem da ginandromorfia: quando um óvulo se forma, ele deve descartar metade de seus cromossomos em um pacote de DNA chamado de “corpo polar”. Mas, em casos raros, o óvulo pode manter o corpo polar, assim como seu núcleo.

Se ambos forem fertilizados e a célula começar a se multiplicar, cada lado do corpo se desenvolve com seu próprio genoma e seu próprio sexo.

Esse aparente acidente pode, na realidade, ser um truque evolutivo que deu errado.

Faz tempo que biólogos sabem que a proporção de machos e fêmeas em uma determinada população pode mudar de acordo com o entorno.

Durante épocas de mais estresse, as mães têm mais chance de produzir fêmeas – essas têm mais chances de encontrar um parceiro e passar adiante o DNA da mãe.

Clinton acredita que se o óvulo da mãe mantiver seu corpo polar, criando dois núcleos, e cada um deles for fertilizado, ela terá um embrião metade macho e metade fêmea.

A mãe poderia, então, rejeitar o sexo indesejado antes mesmfo de liberar seus óvulos, controlando perfeitamente o sexo de seus filhotes. No raro caso de o núcleo indesejado não ser descartado, o resultado seria um ginandromofo.

Mamíferos são diferentes

Pássaro Cardeal, Meio macho, Meio Fêmea.

As conclusões de Clinton mostram que o sexo se desenvolve de maneira bem diferente em aves e em mamíferos.

Em espécies como o ser humano, são os hormônios sexuais que circulam pela corrente sanguínea que têm o papel mais importante na determinação do gênero do bebê. Isso pode explicar por que não encontramos muitos mamíferos ginandromorfos.

No entanto, o fato de os dois lados do corpo de uma ave poderem se desenvolver de maneira independente mostra que são as próprias células do animal que controlam sua identidade e crescimento.

Mas ainda não sabemos se isso se aplica a todas as criaturas ginandromorfas.

O biólogo Josh Jahner, da Universidade de Nevada, nos Estados Unidos, estuda belas borboletas assimétricas. Ele suspeita que elas tenham origem em óvulos duplamente fertilizados, mas é possível que outros mecanismos contribuam para sua existência.

Explorar esse processo pode ser crucial para entender o milagre do nascimento e da reprodução. Por exemplo, por que os corpos dos animais se desenvolvem em uma simetria quase perfeita?

Há ainda uma última possível explicação para os ginandromorfos: o fato de, em alguns lugares, a atividade humana ter dado origem a eles.

Pesquisadores encontraram uma abundância de borboletas ginandromorfas depois dos desastres nucleares de Chernobil, na Ucrânia, e de Fukushima, no Japão.

Por enquanto, trata-se de mais um mistério associado a essas belas e quase míticas criaturas.

Fonte:

BBC

[Biologia]

Categorias: Ciência
Davson Filipe: Davson Filipe é Técnico em Eletrônica, WebDesigner e Editor do Realidade Simulada - Blog que ele próprio criou com propósito de divulgar ciência para o mundo. Fascinado pelas maravilhas do universo, sonha em um dia conhecer a Nasa.
Postagens relacionadas
Deixe um comentário