Há uma contradição gigante no meio do deserto do Arizona: uma cidade experimental projetada para milhares de pessoas que agora contém apenas algumas dezenas de habitantes.
Por quase 5 décadas, um grupo chamado Fundação Cosanti tem trabalhado para construir uma cidade que inspiraria um novo futuro do design urbano. Hoje, o projeto está apenas 5% completo.
Chamada de Arcosanti, a cidade foi idealizada pelo arquiteto italiano Paolo Soleri, cujo sonho era criar um laboratório urbano avançado, onde as atividades cotidianas pudessem ser alimentadas pelos recursos naturais da Terra.
Soleri chamou sua visão de “implosão urbana” – referindo-se ao design que promoveria densidade e reduziria a expansão eliminando carros e estradas.
Em vez de lâmpadas, os quartos seriam iluminados pelos raios naturais do sol e, em vez de ar-condicionado, a vegetação forneceria sombra natural.
Mas, à medida que a construção da Acrosanti se deteriorou, outras cidades e designers começaram a superar as ideias de Soleri.
Nações como o Catar e a Arábia Saudita estão desenvolvendo cidades com tubos de lixo pneumáticos, trabalhadores robôs e drones movidos a energia solar.
A Malásia está procurando construir uma cidade com plantas auto-irrigantes e janelas auto-reparadoras. Se a comunidade planejada da empresa Alphabet em Toronto for concretizada, ela poderá apresentar estradas para veículos sem motorista e sensores subterrâneos.
Em comparação com esses projetos, as estruturas de Arcosanti, com cúpulas e fachadas cor de areia agora parecem partes de uma antiga aldeia hippie.
Mas as ideias de Soleri estão longe de ultrapassadas. O arquiteto foi um dos primeiros proponentes do abastecimento local de alimentos, energia solar e vizinhança viável – conceitos que agora são considerados paradigmas do design urbano.
Com uma visão inclusiva e o financiamento certo, esses conceitos ainda têm o potencial de ajudar a abordar questões como a mudança climática e a superlotação.
As armadilhas de ideias caras e mão de obra barata
Na época em que Soleri imaginou Arcosanti no final dos anos 1960, ele havia sido aclamado como protegido de Frank Lloyd Wright e membro do Museu de Arte Moderna.
Ele e sua esposa também fundaram a Fundação Cosanti, uma organização sem fins lucrativos que possui a terra onde Arcosanti está atualmente.
Em 1970, Soleri começou a trabalhar nas primeiras estruturas Acrosanti, que ele descreveu em seu livro “A cidade na imagem do homem”.
A terra para Arcosanti foi comprada com um empréstimo, mas o trabalho foi livre. Soleri havia obtido seguidores de estudantes, arquitetos, jornalistas, cineastas e outros que se ofereceram para ajudar a dar vida à sua visão.
Soleri morava no local e frequentemente trabalhava ao lado deles, lançando as bases para sua utopia vestindo uma camiseta e sunga.
Mas muitos dos conceitos do arquiteto se revelaram caros e difíceis de financiar. O financiamento diminuiu e a construção do site diminuiu. Com o tempo, os seguidores originais de Soleri começaram a diminuir também.
As opiniões sobre o personagem de Soleri variam – algumas pessoas o descreveram como generoso e modesto, enquanto outras disseram que ele era arrogante e fechado.
Mas a maioria dos relatos parece concordar que ele não estava disposto a comprometer sua visão. Soleri morreu em 2013. [SCIENCE ALERT]