Um truque molecular que impediu nossos ancestrais de passarem fome agora pode estar contribuindo para os altos índices de obesidade entre a população, segundo um novo estudo. No Brasil, 54% das pessoas estão acima do peso — 19% são obesos, de acordo com o Ministério da Saúde.
Em tempos de escassez de alimentos, os animais eram mais propensos a sobreviver se pudessem acumular e aumentar sua energia armazenada.
Por isso, a evolução favoreceu o armazenamento do excesso de “combustível” como gordura. Isso porque a função natural da proteína RAGE, situada na superfície das células adiposas, é parar a quebra da gordura armazenada quando estamos estressados.
Logo, a molécula pode bloquear a queima de gordura necessária quando estamos com muita fome, frio, medo, machucados ou, ironicamente, quando comemos demais:
“Descobrimos um mecanismo anti-inanição que se tornou uma maldição em tempos de abundância, pois interpreta o estresse celular criado por comer em excesso como semelhante ao estresse criado pela fome e põe freios em nossa capacidade de queimar gordura”, disse a líder da pesquisa, Ann Marie Schmidt, em comunicado.
Experimentos realizados em outros tecidos humanos mostram que o RAGE é ativado pelos produtos finais de glicação (AGEs), que se formam quando o açúcar no sangue se combina com proteínas ou gorduras — mais frequentemente em pessoas que estão envelhecendo, diabéticas e obesas.
Outras moléculas também ativam a substância, como aquelas liberadas com a morte celular.
Em um teste realizado em roedores, os especialistas descobriram que a remoção do RAGE das células de gordura fazia com que ratos ganhassem até 75% menos peso durante 3 meses de alimentação rica em gordura —, apesar de estarem consumindo a mesma quantidade de alimentos que os animais do grupo de controle.
Além disso, o transplante de tecido adiposo sem RAGE para camundongos normais também diminuiu o ganho de peso, já que eles foram alimentados com uma dieta rica em gordura.
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