Os médicos da Faculdade de Medicina do Governo de Thiruvananthapuram, na Índia, se surpreenderam quando uma mulher de 24 anos apareceu por lá com ergotismo, uma condição comum durante a Idade Média. O caso foi compartilhado pela equipe na quinta-feira (23), no The New England Journal of Medicine.
A mulher contou aos médicos que começou a sentir uma queimação nas pernas que se estendia dos dedos dos pés até o meio das coxas. Além disso, os médicos notaram que seus pés estavam descoloridos e ela tinha dificuldade para andar.
“A angiotomografia computadorizada (TC) revelou o estreitamento (…) das artérias nas duas pernas”, explicam os médicos no artigo. Após outros exames, a paciente foi diagnostica com ergotismo.
A condição, também conhecida como “Fogo de Santo Antônio”, é resultado do consumo de produtos contaminados pelo fungo esporão-do-centeio (Claviceps purpurea).
O uso indevido de medicamentos a base de ergolina também podem causar o problema
Os sintomas são fluxo sanguíneo restrito, descamação da pele, convulsões dolorosas e até psicose. Embora alguns casos raros de ergotismo ocorram ao redor do mundo, a condição era muito mais comum durante a Idade Média — há evidências de sua existência na Europa desde o ano 857.
Inclusive, há especulações de que o “Fogo de Santo Antônio” tenha sido o responsável pela “praga da dança”, como ficou conhecida uma série de surtos que atingiram a Europa entre os séculos 14 e 17, em que várias pessoas começaram a dançar nas ruas até desmaiar de exaustão.
Neste caso mais recente, a jovem estava tomando um medicamento para enxaqueca com ergolina quatro dias antes do incidente — mas a droga por si só não causou o envenenamento.
A paciente também utilizava ritonavir para combater o HIV, medicamento que inibe a CYP3A4, enzima importante na inativação de toxinas. Segundo os médicos, isso acabou contribuindo para que os níveis de ergotamina em seu corpo aumentassem e provocassem um efeito vasoconstritor.
Infelizmente, até procurar ajuda médica, um dos dedões da paciente gangrenou e teve de ser amputado. Ainda assim, duas semanas após o início do tratamento, o fluxo sanguíneo em ambas as pernas retornou e ela pôde se recuperar.
[Revista Galileu], [Saúde]