O mundo, tal como nos foi dado a conhecer desde os primeiros tempos de escola, não corresponde exatamente à realidade. Nem de perto nem de longe.
Há um grave problema de escala na projeção de Mercator, apresentada em 1569 pelo cartógrafo belga Gerardo Mercator e que ainda hoje serve de referência à maioria dos mapas, como os que são usados na educação escolar na maior parte dos países. Consequência: adquirimos uma visão do planeta totalmente desfasada da realidade.
A transição do globo terrestre, esférico e a três dimensões, para um mapa plano e a duas dimensões, como é o caso, distorce de tal forma o tamanho dos territórios que muitas das ideias feitas são destruídas com as imagens que se seguem.
Apesar de continuar a prevalecer no ensino escolar, não é de agora que a escala de Mercator é posta em causa – um episódio da conhecida série Os Homens do Presidente, por exemplo, chama a atenção para o problema.
Hoje, já será do conhecimento de muitos que, quanto mais próximo dos polos, mais sobredimensionado aparece um país nos mapas convencionais. Mas o site The True Size ajuda a perceber até que ponto a nossa percepção do mundo é uma grande mentira.
Comecemos por Portugal. Em comparação com a Islândia, somos bem mais pequenos, certo?
Vamos trazer a Islândia para o nosso lado, só para confirmar. Afinal, a diferença não é assim tanta como parecia. Nem podia: com uma área de 92,1 mil km2 (Madeira e Açores incluídos), Portugal é o 109.º maior país do mundo, enquanto a Islândia aparece três lugares acima, com 103 mil km2 de extensão.
Agora juntemos a Hungria à equação. Com Portugal e Islândia sobre a linha do equador, o ponto onde a escala de Mercator é menos generosa, o país do Leste europeu destaca-se.
Mas, se a Hungria baixar até à linha que separa o Hemisfério Norte do Hemisfério Sul, o quadro muda de figura. Na verdade, tem praticamente a mesma dimensão de Portugal (93 mil km2).
Concentremo-nos agora na Irlanda, claramente maior do que Portugal e Islândia.
Ou talvez não. Com uma área de 70,3 mil km2, ocupa um território bem inferior ao da Islândia e mesmo ao de Portugal.
E o que dizer do maior país do mundo, a Rússia? Tão gigantesco que é muito maior do que todo o continente africano. A olho nu, arriscamos dizer que tem quase o dobro do tamanho.
Pura ilusão. África tem 54 países e bastam os 10 maiores para praticamente cobrir todo o território russo, quando arrastados para o local respeitando a escala de Mercator.
São eles: Argélia, Congo, Sudão, Líbia, Chade, Níger, Angola, Mali, África do Sul e Etiópia.
Vejamos o movimento inverso. Afinal, África é que tem quase o dobro do tamanho da Rússia.
Seguimos agora para a América do Norte. Conseguirão os Estados Unidos e o Canadá ombrear com África como parece? Por esta altura já todos sabem a resposta.
Claro que não. Os EUA (Alasca incluído) e o Canadá, em conjunto, também ficam muito aquém da imensidão de África, por muito que os mapas que conhecemos nos sugiram o contrário.
Comparemos de seguida o segundo e o terceiro maiores países do mundo, Canadá e China. O país da América do Norte tem larga vantagem na representação de Mercator. Será?
Esta poderia ser uma pergunta para queijinho no jogo de tabuleiro Trivial Persuit. Brasil ou Austrália, qual o maior?
O Brasil é o quinto maior país do mundo, com uma extensão de 8,51 milhões de km2. A Austrália surge logo a seguir, com 7,69 milhões de km2. Se errou na resposta não é preciso sentir qualquer embaraço, a culpa é das aulas de geografia.
O Brasil é tão vasto que ocupa grande parte da Europa.
E a Austrália também.
A China, então, nem se fala.
A Europa está altamente sobredimensionada na escala de Mercator. Quando lhe sobrepomos a Argélia, o Congo e o Sudão, os três maiores países africanos, sobra muito pouco.
Propomos agora uma descida à Antártida. É uma massa de gelo enorme, mas a distorção provocada pela projeção de Mercator atinge aqui o seu pico.
Sim, a Antártida cabe dentro da América do Sul.
Por curiosidade, mostramos-lhe como diferem os sete maiores países, em proporção, quando alinhados na linha do Equador. Já nos referimos aos seis primeiros e a fechar encontra-se a Índia, com 3,29 milhões de km2.
Por falar em Índia, atente-se como não parece assim tão grande à vista da Gronelândia, lá em cima no Ártico. Adivinhe qual é maior.
Pois é, aqui chegados, a escala de Gerardo Mercator já não consegue enganar ninguém. Objetivo cumprido.
Este é outro mapa mundo, baseado na projeção de Mollweide e considerado muito mais realista.
Foi criado em 1805, pelo cartógrafo alemão Karl Mollweide, precisamente para responder aos problemas da escala de Mercator – ainda que nos polos mantenha uma distorção assinalável.
É usado em vários atlas, mas, mais de 200 anos depois, o mapa de Mercator continua a ser muito mais popular.