Ao contrário do que muitos pensam, Thomas Edison não inventou a lâmpada. Certamente ele foi um “grande inventor” tendo obtido cerca de 1.093 patentes com seu nome.
Edison ainda hoje é visto como um grande homem, tendo um filme da década de 40 intitulado de Edison, o homem. Nesse filme ele é retratado como um homem divertido e terno que adorava criancinhas e se dedicava notavelmente ao progresso da humanidade.
Edison teve que pisar em muita gente pra chegar onde chegou
Na incessante batalha para ver qual era o melhor tipo de corrente elétrica, a Corrente Contínua (Defendida por Edison) e a Corrente Alternada (Defendida por Tesla), Edison se manteve estupidamente contrário a Corrente Alternada, tendo executado animais em praça pública utilizando a Corrente Alternada para provar que estava correto. Veja um trecho extraído da biografia de 1995 Edison, Inventing The Century, escrita por Neil Baldwin:
Durante dois anos, depois de ter sido abandonado por Nikola Tesla, Edison gastou tempo e energia crescente em uma mórbida campanha de relações públicas para demonstrar que a razão principal para afastar-se da Corrente Alternada era o perigo desta, enquanto a Corrente Contínua era segura.
No pátio do West Orange Laboratory, execuções públicas de animais tornaram-se eventos para a mídia, com a alternância de correntes. No começo, eram cães, mas, depois… bezerros e cavalos.
Hoje a Corrente Alternada, defendida anteriormente por Tesla, é utilizada na maioria dos dispositivos, com toda à rede elétrica global funcionando em Corrente Alternada.
Como veremos, Edison não inventou a lâmpada incandescente, mas sim a mais prática. Existem muitos precursores, pelo menos uma dúzia, alguns famosos e outros nem tanto, mas certamente Edison conhecia seus trabalhos.
Uma frase recorrentemente proferida é: “Em 1879, Edison criou a lâmpada incandescente.” Será mesmo? Vamos aos fatos.
Henry Woodward foi um inventor canadense e um dos pioneiros no desenvolvimento da lâmpada incandescente. Em 24 de julho de 1874, Woodward e seu parceiro, Mathews Evans, registraram um pedido de patente canadense em uma lâmpada elétrica. O pedido foi concedido em 3 de agosto de 1874 como a patente canadense número 3.738. A primeira lâmpada de Woodward e Evans era feita de um tubo de vidro no qual um pedaço de carbono foi selada hermeticamente; o tubo foi evacuado e enchido com nitrogênio.
A lâmpada de Woodward e Evans era totalmente eficaz e suficientemente promissora; Woodward vendeu sua parte da patente para Thomas Edison. Woodward se mudou para Nova York, onde negociou a patente com Edison, depois disso jamais se ouviu falar nele. Veja seu último relato:
Alguns anos depois disso mudei-me para Nova York, e no curso de meus negócios entrei casualmente em um contato mais ou menos íntimo com o eletricista agora famoso, Thomas A. Edison, que na época realizava experiências com a lâmpada incandescente elétrica.
Enquanto conversávamos sobre o assunto certo dia comentei em tom de brincadeira: “Ora, Edison, você está atrasado! Sou parcialmente proprietário de uma patente alguns anos mais antiga que a sua, sobre a mesma coisa que você afirma ter inventado.
” Ele perguntou que patente era essa, e lhe contei. Ele comentou: “Ah, eu a conheço, e não presta.” No dia seguinte, um dos homens do Sr. Edison, a quem eu conhecia muito bem, perguntou-me quanto eu desejava por minha parte na patente, e naquele dia a vendi para este cavalheiro, que por sua vez transferiu o documento para o Sr. Edison.
Como é dito em um artigo em uma edição de 1900 da Electrical World And Engineer:
As alegações de Edison, como sustentadas nos tribunais, não estavam na descoberta dos princípios da lâmpada incandescente, mas em uma combinação definida de partes (todas bem conhecidas) que resultaram na produção de uma forma prática da lâmpada incandescente.
Ou seja, a lâmpada criada por Edison nada mais é que a junção de partes já inventadas, Edison pegou as melhores ideias, por assim dizer. Mas não podemos deixar de dizer que Edison foi relativamente exclusivo ao acrescentar um filamento de carbono de alta resistência, aumentando assim a vida útil da lâmpada.
Um componente importante de um sistema elétrico de iluminação é a eletricidade. Não vamos nos aprofundar nisso, mas uma lâmpada sem um sistema elétrico eficiente não é nada.
Esse terreno foi preparado por Joseph Henry e Michael Faraday, que descobriram que um magneto que se move através de uma bobina de arame produz uma corrente elétrica. Depois que esse ingrediente essencial estava a disposição, a corrida pela lâmpada incandescente esquentou.
Na Rússia, Aleksandr Lodygin, é considerado o inventor da lâmpada incandescente. Lodygin recebeu uma patente russa em 1872 para uma lâmpada com um pedaço de carbono abrigado em uma atmosfera de carbono.
A lâmpada de Lodygin teve sucesso suficiente para que 200 delas fossem instaladas no estaleiro do Ministério da Marinha, em São Petersburgo. Dois anos depois, a Academia de Ciências concedeu a Lodygin o prêmio Lomonosor, no valor de 1.000 rublos, e ele fundou uma empresa. De acordo com fontes ocidentais, a lâmpada era demasiadamente cara para ser prática, e o empreendimento fracassou.
A história não acaba por aí, não tem como terminar um texto sobre a invenção da lâmpada sem citar Joseph Swan, talvez o mais famoso concorrente de Edison.
Joseph Swan foi um respeitado físico, químico e inventor inglês, que já fazia experiências intermináveis com a lâmpada incandescente, desde 1848, mais ou menos.
Swan teve sua primeira patente em 1878, com a sua casa em Gateshead, Inglaterra, sendo a primeira do mundo a ser iluminada por uma lâmpada incandescente.
Em 1877, um ano antes de o próprio Edison declarar que começara a trabalhar com filamento de carbono, Swan fazia o mesmo, e em uma lâmpada da qual todo o ar havia sido retirado.
Em 1879, oito meses antes da descoberta de Edison e Batchelor, Swan demonstrou sua lâmpada em um encontro da Sociedade Literária e Filosófica em Newcastle. Swan, chegou a escrever a Edison, quando foi informado do sucesso de seu concorrente:
Acho que estou à sua frente em vários pontos, especialmente na produção dos carbonos… Posso convencê-lo facilmente, se necessário, que estive trabalhando por um longo tempo nesta questão e que papelão carbonizado foi um material com o qual realizei experimentos por muitos anos e com o qual estava realmente trabalhando quando você anunciou que o usava… Portanto, tive a desagradável surpresa de descobrir certa manhã… Que você trilha o mesmo caminho que eu e, em diversos pontos, estava à minha frente, mas acho que agora estou na dianteira.
O golpe fatal nessa história talvez tenha sido as condições que Edison tinha, que por sua vez eram superiores às de Swan. Swan era mais retraído que Edison, tinha menos dinheiro e agia muito lentamente, especialmente em questões de patente.
Tudo isso colocou o inglês em cheque ao lidar com o americano, que acreditava que a corrida não era para aquele mais rápido, mas para aquele com mais bravata, persistência e dinheiro. E assim, quando Swan finalmente depositou a patente, Edison afirmou que a lâmpada do inglês copiava sua invenção
Como os editores de La Lumière Electrique colocam: “A lâmpada de Swan pode ter vindo antes daquela de Edison, mas nada, atualmente, mostra que ela é superior.” A principal contribuição de Edison foi ter criado todo um sistema de iluminação.
Com um ano de antecedência, Edison já declarava que a lâmpada estaria pronta, e quando o sucesso finalmente chegou, multidões íam até Menlo Park para ver o milagre com os seus próprios olhos.
Edison teve a persistência de fazer investimentos que para a época eram considerados como uma impossibilidade. A famosa Pearl Street Station, em Nova York, começou a gerar energia em 4 de setembro de 1882, atendendo 82 clientes com 400 lâmpadas. Dois anos depois em 1884 a Pearl Street Station estava atendendo 508 clientes com 10.164 lâmpadas.
A produtividade de Edison era impressionante. O francês Charles Cros, por exemplo, criou um fonógrafo funcional pouco antes de Edison, mas era um pobre professor e não podia sequer pagar o depósito de patente.
Conclusão
Edison com certeza merece o crédito pela revolução da lâmpada incandescente, e também merece crédito pela criação da primeira lâmpada incandescente funcional e comercialmente viável.
Mas ele nem de longe foi o primeiro a inventar a primeira lâmpada incandescente, e também não criou a melhor sozinho, existiram precursores que foram fundamentais para esse processo, mas que infelizmente, foram esquecidos pela história.
Nota
Esse texto está sujeito a erros e aberto para correções (Contatar autor: guipavanlopes@gmail.com). Todas as referências poderão ser encontradas logo abaixo.
Referências
Rothman, Tony. Tudo é relativo: e outras fábulas da ciência e tecnologia. 2° Ed. Rio de janeiro: Difel, 2013. Capítulo 12, p. 173-184.
Pearl Street Station. 2018. Disponível em:<https://en.wikipedia.org/wiki/Pearl_Street_Station>. Acesso em: 02 Jun. 2018.
Joseph Wilson Swan. 2017. Disponível em:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Joseph_Wilson_Swan>. Acesso em: 02 Jun. 2018.
Alexander Lodygin. 2018. Disponível em:<https://en.wikipedia.org/wiki/Alexander_Lodygin> Acesso em: 02 Jun. 2018.
Observação
Com relação as referências, não considero a Wikipédia como uma fonte confiável de informação, por isso, evitei utilizar o máximo possível, no entanto, alguns artigos da Wikipédia (Citados logo acima) foram úteis para a incrementação de alguns detalhes que, infelizmente, faltavam na obra do físico Tony Rothman, que foi a fonte da qual eu tirei a maior parte das informações.
No final do livro o autor deixa destacado todas as referências utilizadas por ele, que podem ser consultadas caso haja dúvidas.
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