O Sars-CoV-2, como é chamado oficialmente o novo vírus, faz parte de uma família conhecida pelo menos desde meados dos anos 1960 e que circula em animais, especialmente em morcegos.
Mas estes vírus têm uma grande capacidade de sofrer mutações e produzir novas variedades que infectam outras espécies, entre elas, seres humanos.
Um novo vírus como este é perigoso não apenas por não termos medicamentos ou vacinas para nos proteger, mas também porque nossas defesas naturais não estão preparadas para combatê-lo.
Como funciona o sistema imunológico
O corpo tem barreiras para impedir a entrada de patógenos, como são chamados os microrganismos que afetam nossa saúde.
Elas podem ser mecânicas, como a pele, microbiológicas — por exemplo, a flora de bactérias do intestino —, ou químicas, como as enzimas presentes na saliva ou o suco gástrico do estômago.
Se um corpo estranho consegue superar estas barreiras, cabe ao sistema imunológico nos proteger.
Todas as pessoas nascem com defesas naturais contra invasores. Esta é a chamada resposta imunológica inata, que é acionada automaticamente quando células detectam que foram infectadas e enviam sinais químicos para avisar que o corpo está sob ataque.
Isso faz com que outras células acionem mecanismos para se tornarem menos suscetíveis à infecção e ativa o sistema imunológico, que vai pôr em ação células específicas para combater o invasor.
Estas células são fabricadas continuamente pela medula óssea, a partir de células-tronco, que estão em um estágio inicial de desenvolvimento e tem o potencial de se transformar, em um processo de diferenciação, para cumprir funções específicas.
Desta forma, as células-tronco se tornam leucócitos — ou glóbulos brancos —, que atuam em nosso sistema imunológico. Uma elevação na quantidade de leucócitos no exame de sangue é indício de uma infecção. Se estiver abaixo do normal, o sistema imunológico está enfraquecido.
Os neutrófilos são o tipo de leucócito mais numeroso e atuam como a primeira linha de defesa do organismo. Eles envolvem e eliminam o invasor por meio da fagocitose, produzindo enzimas digestivas que destroem o patógeno.
Também liberam sinais químicos que recrutam mais células para atacar a ameaça. Isso gera uma inflamação na região onde está o invasor. Esta área é irrigada com sangue, que traz consigo mais leucócitos para auxiliar no combate.
Outro tipo de glóbulo branco, o linfócito conhecido como natural killer (assassino natural, em inglês), age principalmente contra tumores e vírus. Ele libera grânulos de proteína ao redor do alvo que fazem o patógeno se autodestruir.
Um terceiro tipo de leucócito, o macrófago, também atua neste estágio fagocitando invasores, mas cumpre outra função importante no próximo estágio da resposta imune.
A resposta imune adquirida
Quando um invasor é agressivo, resistente ou está presente em maior quantidade, isso exige outro tipo de reação do organismo.
A resposta imune adquirida é desenvolvida pelo corpo após entrar em contato com um patógeno. Ela envolve a ação dos linfócitos, células especializadas capazes de combater microrganismos e de nos proteger da mesma ameaça por mais tempo.
Os linfócitos ficam armazenados em órgãos como os linfonodos e o baço, à espera de sinais de que devem entrar em ação.
Um dos principais alertas é dado pelos macrófagos, que capturam um microrganismo ou parte dele e o transporta até os linfócitos, dando início à resposta imune adquirida. “Os macrófagos atuam como uma ponte entre as duas respostas imunes”, explica Astray.
Os linfócitos começam então a produzir milhões de cópias de si mesmos e reforçam o sistema imunológico ao gerar anticorpos, proteínas capazes de neutralizar um patógeno. Os anticorpos têm a capacidade de reconhecer e se unir ao invasor, impedindo que ele infecte novas células e se reproduza.
Os linfócitos também marcam alvos para neutrófilos, macrófagos e natural killers. “Os linfócitos são como maestros do sistema imunológico, ao fazer com que as células imunes se aglutinem em torno de uma ameaça”, diz Portela.
Ao final deste processo, a maioria dos linfócitos é destruída, mas alguns se diferenciam e permanecem em nosso corpo por vários anos, formando uma memória imunológica que tornará mais ágil o combate ao patógeno se ele nos infectar novamente.
As células imunes se multiplicam mais rapidamente ao detectar a mesma ameaça, o que acaba com aquela desvantagem do sistema imunológico na corrida inicial contra um invasor após a infecção. “Isso nos impede de ficar doentes ou faz com que os sintomas sejam mais leves”, afirma Astray.
Por este motivo, não contraímos mais de uma vez algumas doenças, como catapora, caxumba, rubéola ou sarampo. Mas isso não impede que tenhamos novas gripes, por exemplo, porque o vírus que a causa, o influenza, sofre mutações facilmente, o que torna a memória imunológica inútil contra suas novas versões.
Fonte:
[Saúde]
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