Do micro ao macro, tudo gira no universo: os elétrons em torno de núcleos, luas em torno de planetas, planetas em torno de estrelas, estrelas em torno de galáxias…
Mas será que o universo também gira?
Essa é uma das dúvidas que os cosmologistas têm estudado com mais afinco. A atenção deles está nesse fato porque é um dos que podem dizer sobre a natureza fundamental do universo.
“É uma questão muito abstrata, como a maioria da cosmologia, mas aqueles de nós que estudam cosmologia acham que é uma maneira de estudar física fundamental”, disse Tess Jaffe, astrofísico da Universidade de Maryland e cientista-assistente no Goddard Space, da NASA.
“Há certas coisas que não podemos testar em um laboratório na Terra. Então usamos o universo e a geometria do universo, o que poderia nos dizer algo sobre a física fundamental”, continua.
Universo
Os cientistas, quando pensaram a natureza fundamental do universo pela primeira vez, achavam que ele não estava girando e que era isotrópico. Ou seja, que ele parece o mesmo em todas as direções.
Essa era uma suposição consistente com as equações de Einstein. E partindo desse modelo, os cientistas construíram um padrão de modelo cosmológico que descreve o universo.
“Essa [suposição] está realmente codificada na forma como realizamos nossos cálculos, na forma como analisamos nossos dados, na maneira como fazemos muitas coisas”, disse Daniela Saadeh, pesquisadora da Escola de Física e Astronomia da Universidade de Nottingham, no Reino Unido.
“Mas você tem que testar. Você não pode apenas esperar pelo melhor”, ressaltou.
E para ver se essas suposições sobre o universo estavam certas, os cientistas juntaram suas observações para testar os modelos. Eles usaram a luz do fundo de microondas cósmica (CMB), que é a mais antiga que se pode observar.
Ela foi emitida apenas 380 mil anos depois do Big Bang. E é como um tesouro de informações para os cosmólogos que estudam o universo.
Esse CMB parece quase idêntico em todas as direções, mas sua temperatura tem pequenas variações. Somente um milésimo de grau foi afetado pela história, conteúdo e geometria do universo.
E estudando essa diferença, os cientistas podem ver se o universo foi deformado de alguma maneira. Se sim, isso sugeriria rotação ou uma expansão aumentada em uma direção.
Geometria
A geometria do universo pode ser fornecida também através da medição da polarização da luz, principalmente sua orientação.
A descoberta feita pelos cientistas foi a de que a luz da CMB não mostra evidências de que o universo esteja girando. E a probabilidade de ele ser isotrópico é de 120.000 para um.
Segundo um estudo de 2016, liderado por Saadeh e Stephen Feeney, o resultado mostra que não importa a direção que se olhe que o universo, é o mesmo.
E outro estudo mostra que existe uma chance de 95% de que o universo seja homogêneo, que quer dizer que ele é o mesmo em todos os lugares em grandes escalas.
Os estudos sugerem que o universo é basicamente uniforme e não está girando. E essa conclusão é praticamente imutável. Com o tempo, existirão outras medições do CMB, mas, muito provavelmente, elas confirmarão as descobertas anteriores.
“Nós caracterizamos o sinal [de temperatura] que está lá, basicamente onde não há mais nenhuma informação para nós. Eu não acho que [novos dados de polarização] teriam um grande impacto na questão da rotação.
Precisamente porque a rotação é o sinal que esperamos ver em escalas muito grandes e que tem sido mais ou menos descartada pelos dados que já temos”, disse Jaffe.
O universo não está girando, o que é um alívio para os cosmólogos que basearam seus estudos contando com isso. Além disso, com os modelos feitos por eles, também temos uma perspectiva sobre o nosso lugar no universo.
“Nós realmente começamos como humanos a partir dessa ideia de que éramos o centro do universo. Eu acho que é realmente fascinante o quão pequeno e insignificante nós somos”, concluiu Saadeh.