Uma população de pássaros foi descoberta no Arquipélago de Galápagos, no oceano Pacífico, em processo de evolução para gerar uma nova espécie.
É a primeira vez que pesquisadores conseguem acompanhar um acontecimento como esse em campo.
Por mais de quatro décadas, cientistas monitoraram uma população de tentilhões, ave típica da região, na ilha Daphne Major. E, assim, conseguiram acompanhar de perto o processo de geração da nova espécie.
Os pássaros analisados pertencem ao grupo conhecido como tentilhões de Darwin – aves que ajudaram o naturalista inglês Charles Darwin a desenvolver a teoria da seleção natural, apresentada na obra A Origem das Espécies, de 1859.
A pesquisa, publicada na revista científica Science, foi conduzida por cientistas da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e da Universidade de Uppsala, na Suécia.
Em 1981, os pesquisadores notaram a chegada de um macho à ilha. Ele pertencia a uma espécie não nativa, e era maior que os pássaros que viviam no local.
Os professores Rosemary e Peter Grant, da Universidade de Princeton, perceberam que essa ave reproduziu com uma fêmea de uma das espécies locais, de porte médio, dando início a uma nova linhagem fértil.
Quase 40 anos depois, a prole do acasalamento ainda está sendo observada – ela chega a cerca de 30 pássaros.
“É um caso extremo de algo que começamos a perceber de forma mais geral ao longo dos anos. A evolução, em geral, pode acontecer muito rapidamente”, disse o professor Roger Butlin, especialista no tema, e que não está envolvido no estudo.
O que descreve uma nova espécie?
A nova população de pássaros é suficientemente diferente na forma e nos hábitos das aves nativas – indivíduos de populações distintas não acasalam com eles.
No passado, acreditava-se que duas espécies diferentes não poderiam produzir descendentes férteis. Mas, nos últimos anos, foi estabelecido que muitas aves e outros animais que consideramos espécies únicas são, de fato, capazes de cruzar com outros para produzir uma linhagem fértil.
“A tendência é não discutir mais sobre o que define uma espécie, porque isso não leva a lugar nenhum”, diz Butlin.
Segundo ele, o mais interessante é compreender o papel que a hibridização pode ter no processo de criação de novas espécies, razão pela qual a observação dos tentilhões das Galápagos é tão importante.
Os pesquisadores acreditam que o macho original deve ter voado 65 milhas da ilha Española, seu habitat natural, até chegar a Daphne Major. A distância é considerada longa para um pássaro, o que deve ter impedido sua volta para casa.
Na maioria das vezes, a prole do acasalamento de espécies cruzadas se adapta mal ao ambiente. Neste caso, porém, os novos tentilhões de Daphne Major são maiores que as outras espécies da ilha, e descobriram alimentos novos e inexplorados.
Por isso, os pesquisadores estão chamando a nova população de Big Bird (“Pássaro Grande”, em tradução literal).
Para testar cientificamente se a população de Big Bird era geneticamente distinta das três espécies de pássaros nativos da ilha, Peter e Rosemary Grant trabalharam em parceria com o professor Leif Andersson, da Universidade de Uppsala, que analisou geneticamente o grupo para o novo estudo.
“A surpresa foi que esperávamos que o híbrido começasse a se reproduzir com uma das outras espécies da ilha e fosse absorvido. Confirmamos que eles são um grupo de reprodução fechado”, disse Andersson à BBC.
Isolamento reprodutivo
Devido à incapacidade de reconhecer o canto dos novos machos, as fêmeas nativas não acasalaram com a nova espécie.
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